O que Brumadinho nos ensina sobre risco e volatilidade
Semana passada a barragem da Mina do Feijão em Brumadinho se rompeu. A cidade foi inundada por lama. Pessoas e animais morreram e vários ficaram desabrigados. Como a barragem era da Vale, esse evento trouxe grande volatilidade para o papel, que caiu 25% no dia que a bolsa abriu.
Essa tragédia traz consigo uma grande lição para o mercado financeiro:
Volatilidade e risco são coisas diferentes
Tentar quantificar risco baseado em volatilidade pode ser um erro gritante. Antes de prosseguir, vamos aos conceitos
O que é risco
Risco é a possibilidade de perder algo de valor. No mercado financeiro, o risco de um ativo está atrelado a possibilidade dele não performar como o esperado, ou ainda pior: despencar.
Como o mercado é extremamente complexo, risco é uma grandeza difícil de medir. Os modelos simplesmente não conseguem contemplar todas as possibilidades e muitas vezes alguns riscos são ignorados.
A maneira mais comum de mensurar risco no mercado financeiro é mensurar a volatilidade, embora risco e volatilidade sejam coisas diferentes.
O que é volatilidade
Volatilidade é uma medida estatística que mede a dispersão de um ativo em um período de tempo. Trocando em miúdos: volatilidade é o quanto o ativo varia. Se ele variar bastante, ele é mais volátil. Se ele variar pouco, é menos volátil.

Com essa imagem, a gente consegue entender melhor o que é volatilidade. Em vermelho temos o fundo Versa Long Biased, e em azul, o Polo Norte Master.
Perceba que o Versa sobe e desce com muito mais frequência e muito mais intensidade do que o azul. Isso significa que ele é mais volátil.
Na legenda da imagem, cada fundo tem um “risco” associado. O que está sendo medido ali é, na verdade, volatilidade (como foi falado anteriormente, é um consenso no mercado financeiro falar que volatilidade e risco são a mesma coisa).
Quer saber tudo sobre fundos de investimento? Dá uma olhada nesse post que eu fiz.
Qual a diferença na prática?
Um bom exemplo que mostra de uma vez por todas qual a diferença entre volatilidade e risco é a diferença entre o taxista e o engenheiro.
Do ponto de vista financeiro, qual profissão você acha que é mais arriscada? Depois deixa lá nos comentários qual a sua opinião!

Quase todo mundo diz que é o taxista, mas vamos examinar um pouco mais de perto.
Quando tudo vai bem…
O taxista ganha por corrida. Tem dia com muitas corridas… seja porque tá chovendo, porque tem algum evento, etc. Outros dias têm poucas corridas. Também existe a possibilidade do taxista ficar doente e não poder trabalhar.
Se você for analisar o quanto o taxista faz de dinheiro por dia, você vai ver uma volatilidade alta. Isso se repete quando você olha o dinheiro que ele faz por semana. Existem semanas boas e semanas ruins.
Enquanto isso, o engenheiro recebe o seu salário mensal faça sol ou faça chuva. Não existe volatilidade na receita do engenheiro. Coloquei no gráfico o quanto o engenheiro faz por dia (dividindo o salário dele por 30 dias para facilitar o exemplo).


Quando algo acontece…
Só que existe uma coisa muito importante: no caso de uma crise econômica como a que assombrou o pais em 2015, o engenheiro tem chances de ser demitido. Se isso acontece, o seu salário vai a 0 de um mês para o outro. Já o taxista não tem esse risco. No caso da crise, o número de corridas vai diminuir, mas não vai zerar. Sendo assim, ele vai continuar fazendo dinheiro, mesmo com crise.


Esse é só um exemplo para mostrar que volatilidade e risco são coisas bem diferentes. O engenheiro não tem nenhuma volatilidade, mas ele corre o risco de perder o emprego no caso de uma crise. Já o taxista tem grande volatilidade, mas ele sobrevive às crises de forma mais fácil.
Como levar essa lição para o mercado financeiro

Indústrias costumam ter diversos riscos: acidentes, variação cambial, preço da matéria prima, além de riscos que não conseguimos pensar/modelar.
O grande problema de medir risco usando a volatilidade é que volatilidade se baseia no histórico do ativo, enquanto o risco não se importa com o histórico.
- Antes da tragédia de Mariana, nenhuma barragem da Vale havia se rompido, mas isso não significava que não havia esse risco. Tanto que isso se repetiu em Brumadinho.
- Antes do desastre nuclear em Fukushima, nenhuma tsunami daquele porte tinha atingido a costa, mas isso não significava que não havia esse risco.
Eu poderia continuar dando esses exemplos, mas acho que já deu para entender.
Medir risco olhando para a volatilidade é como dirigir um carro olhando para o retrovisor. No momento que a estrada tem uma curva inesperada, você vai sofrer um acidente.
O que fazer então?
Prever o futuro é uma tarefa impossível. O que muitos fazem é olhar o passado para tentar prever o futuro. Isso não necessariamente torna a tarefa menos complexa.
Risco
O que é recomendado para a construção da sua carteira de investimentos é que não tente prever tragédias/grandes descobertas. O melhor a ser fazer é se expor a ativos que se valorizam quando os outros se desvalorizam e vice versa, para que você consiga crescer no longo prazo independentemente das eventualidades.
Melhor do que tentar prever o futuro é estar preparado para as possibilidades.
Volatilidade
Como a volatilidade mostra o quanto um ativo pode variar, basta você saber até que ponto você consegue ver variações negativas do seu investimento (no curto prazo) e se manter firme na expectativa de longo prazo.
É uma boa ideia não se expor a variações maiores do que você pode suportar, porque isso pode fazer com que você saia de um investimento antes da hora.
Quer saber mais sobre esse tema? Recomendo a leitura do livro Antifragil do Nassim Nicolas Taleb. Ele entra mais a fundo e fala também sobre como usar essa estratégia nos investimentos.